Toda criança merece ser tratada com respeito e ter todas as suas necessidades primordiais atendidas por pais e responsáveis. Cabe aos adultos, independentemente de serem seus parentes ou não, preservar a sua integridade física, psicológica e emocional, conforme dita o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Infelizmente nem sempre as coisas caminham dessa forma.
O antagonismo político no Brasil está levando muitas pessoas à loucura ou mesmo pode estar revelando a essência de quem elas realmente são. Como se não bastasse o conflito quase’ fratricida’ no qual parte da população parece estar empenhada, agora uma criança teve a sua honra e a sua integridade moral atingida de forma torpe, através de uma declaração realizada em uma rede social por uma afamada jornalista do jornal Folha de São Paulo.
A criança em questão é a pequena Laura Bolsonaro, de apenas 11 anos de idade. Apenas uma menina. E qual foi a falta cometida por Laurinha? Ser filha do atual presidente da República, Jair Messias Bolsonaro (PL), que disputa contra o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT), a reeleição para o mesmo cargo.
Ser a única filha mulher de Bolsonaro colocou Laurinha na alça de mira de uma jornalista consagrada e atuante em um importante veículo de comunicação. Bárbara Gancia, de 65 anos, aparentemente possuída por um sentimento de ódio mais-que-eleitoral teve a pachorra de fazer a seguinte afirmação em seu twitter: “Pra bolsonarista imbrochável feito o nosso presidente, quando a filha do Bolsonaro se arruma, ela parece uma puta.”
Imagina-se que Gancia faça referência à fake news acerca do interesse supostamente pedófilo do presidente em meninas venezuelanas, divulgado em propagandas mentirosas do PT, que de tão fake até o Ministro Alexandre Moraes mandou tirar do ar. A declaração do presidente foi tirada de contexto, recortada e reproduzida de forma grosseira e mal intencionada, provavelmente como parte da estratégia de André Janones, o político sem voto que comandaria a fábrica de fake news lulista. Até aí,” tudo bem”, tem fake news dos dois lados desta campanha louca. Mas…o que Laurinha tem com isso?
É simplesmente inimaginável que uma jornalista tarimbada com nível de esclarecimento de Bárbara Gancia, que tem idade para ser avó da pequena Laura, tenha feito tão chocante afirmação. E ache normal fazê-lo. Colocou uma menina em uma situação de extrema vulnerabilidade. Será que Laura, por ser filha de Jair Bolsonaro, não tem o mesmo direito à preservação da sua integridade como outras crianças? Pelo que depreendemos da afirmação da renomada jornalista, a resposta é não.
Laura não tem direitos. As diferenças contra o pai foram repassadas à figura da filha, que não tem condições de se defender, de lutar por sua integridade tão sordidamente agredida. A filha do” genocida” que não matou ninguém não importa. O que importa é ganhar uma eleição, devolvendo ao planalto o” ladrão” que não roubou ninguém. Apesar dos 6 bilhões de reais repatriados, mas isso é outra história.
A postagem de Bárbara Gancia não é um comentário impensado. Bárbara não chegou onde chegou à toa. Tem preparo e competência para estar em qualquer redação de qualidade no Brasil. Tal comentário pode revelar um ódio profundo à condição própria de ser mulher, criança e indefesa. Partindo de uma mulher contra uma menina, a ofensa se torna ainda mais grave. Bárbara Gancia comete um crime e ainda abre uma brecha para que outras crianças tenham a sua honra vilipendiada nas redes sociais. Já normalizamos a corrupção, o roubo de celulares…vamos normalizar o vilipêndio infantil.
Como fica a imagem e a dignidade da pequena Laura Bolsonaro diante dos seus amigos e colegas de colégio? Como a pequena Laura vai encarar tamanho insulto perpetrado em uma rede social? E se fosse o contrário? Que gente é essa que pede respeito, mas não respeita ninguém? Por que uma menina pode ser livremente atacada e não mobilizar o “Mexeu com uma, mexeu com todas”? Onde estão as defensoras dos direitos das mulheres e das crianças? Por acaso, Laura não é uma criança? Não é admissível que o fato de Laura ser filha de Jair Bolsonaro a tenha tornado um referencial de escárnio público. Esta é a turma do ”paz e amor”. Estou vendo.
Que país estamos construindo? Cabe a pergunta: Se essas pessoas voltarem ao poder o que será dos filhos e filhas dos seus oponentes políticos? Serão fuzilados em paredões morais, correndo o sério risco de desenvolverem problemas de autoimagem e profundos traumas?
Pergunte a um psicólogo o quão devastadora pode ser para uma criança uma ofensa como essa, feita em público, e sob os holofotes de todo o país. Não há profissional ou pessoa com um mínimo de discernimento que não condene um ato tão escabroso, como o cometido hoje por Bárbara Gancia. É vil. Deve pedir perdão à pequena Laura. Resta saber, se uma pessoa capaz de afirmar o que afirmou, terá dignidade para tanto.
Condenada
Em agosto de 2022, a Barbara Gancia se envolveu em outra polêmica envolvendo pessoas próximas a Jair Bolsonaro. A jornalista foi condenada a indenizar em R$ 10 mil o assessor internacional do Presidente da República, Filipe Garcia Martins, por chamá-lo de “supremacista” no Twitter. A decisão é do juiz Danilo Fadel de Castro, da 10ª Vara do Foro Central Cível de São Paulo.
Gancia ofendeu o assessor do presidente, através de um tuíte, o chamando de engomadinho supremacista.
“Nenhuma sociedade minimamente civilizada permitiria a um supremacista metido a engomadinho, discípulo de astrólogo charlatão fazer parte do círculo íntimo do presidente da República e interferir em políticas de Estado. Em qualquer lugar minimamente respeitável estariam todos presos”.
Na época, a defesa de Barbara tentou argumentar, alegando que o gesto praticado por Martins se tratava de um sinal de “orgulho da supremacia branca”, tendo seu uso se iniciado por volta de 2017, no fórum de compartilhamento de imagens 4chan.
O juiz Danilo Fadel de Castro não concordou com a argumentação da jornalista. Para ele, a manifestação de Gancia extrapolou os limites da livre manifestação do pensamento ao definir Martins como “supremacista”, o que violou direitos de personalidade violados. Os fatos relatados no processo, entendeu o juiz, macularam a imagem de Martins “para uma gama indiscriminada de pessoas, prejudicando sua imagem por ter a requerida [Barbara Gancia] o associado a ideais de caráter racista, atingindo, ademais, sua honradez e reputação”.