Jair Bolsonaro ficou pela primeira vez frente a frente com o ministro Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (10/6). Réu, o ex-presidente foi interrogado por Moraes e negou ter planejado um suposto golpe para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva após as eleições de 2022.
Além de Bolsonaro, outros sete aliados do ex-presidente também foram interrogados num processo considerado histórico, já que é a primeira vez que um ex-mandatário e militares de alta patente, como generais e um almirante da reserva, respondem criminalmente por tentativa de ruptura democrática no Brasil.
Diante das câmeras da TV Justiça, com reprodução da BBC News Brasil e boa parte da imprensa, Bolsonaro adotou um tom mais ameno com a Corte e com Moraes do que em seus comícios públicos — chegou a pedir desculpas ao ministro do STF, com quem antagonizou nos últimos anos.
O ex-presidente voltou a negar qualquer intenção de ruptura democrática em seu governo, mas admitiu que chegou a discutir "possibilidades" de reverter o resultado eleitoral. Segundo ele, no entanto, as alternativas teriam sido descartadas por não atenderem à Constituição.
Segundo a acusação do procurador-geral da República, Paulo Gonet, a tentativa de golpe articulada pelo núcleo interrogado teria começado com a campanha contra o sistema eletrônico de votação durante o governo Bolsonaro (2019-2022); seguido com a pressão sobre as Forças Armadas para aderir ao plano e culminado nos ataques à sede dos Três Poderes em Brasília em 8 janeiro de 2023.
Bolsonaro voltou a negar indícios de uma ruptura no país e se manteve firme com respostas esclarecedoras a cada pergunta a ele feita “Não tem indícios nenhum, senhor ministro. Tanto é que a uma reunião com embaixadores não era para ser gravada. Um desabafo, uma retórica que eu usei. Se fossem outros três ocupando, teria falado a mesma coisa. Então, me desculpe, não tinha qualquer intenção de acusar de qualquer desvio de conduta os senhores três”, respondeu Bolsonaro, em tom mais conciliador.
A declaração foi feita diante dos demais ministros da Primeira Turma do STF, durante o sexto depoimento da série de interrogatórios dos réus apontados como integrantes do “núcleo crucial” da tentativa de golpe. Bolsonaro chegou ao plenário dizendo que poderia “falar por horas” se pudesse “ficar à vontade”.
Terminada a fase de interrogatórios do chamado "núcleo crucial" da investigação da tentativa de golpe de Estado, a defesa dos oitos réus ouvidos no STF podem requerer, dentro do prazo de cinco dias, novas diligências para a produção de provas.